no cimo do monte me encontro...
a chuva cola o meu pêlo ao meu corpo.
no cimo do monte sinto o vento, ele transporta todas as dores e gritos provocados,
transporta as dores que sofri, as dores que infligi...
olho o horizonte, nuvens negras ilumindas por raios...
cada raio, cada morte...
olho para trás, e vejo alguem que me destruiu,
mas que as minhas garras dilaceraram,
e cujo sangue me fez viver novamente...
olho em frente, e vejo o motivo que me arrastou da minha gruta de novo para a batalha...
vejo muros a rodeiar...
uivo à lua e pelo monte começo a correr, a cada passada dada,
a minha transformação desenrola-se sobre o luar...
garras a crescer, pêlo a envolver-me, os dentes com que irei dilacerar
quem à minha frente se atravessar, quatro patas no chão e uivo....
salto sobre o alto muro que se depara à minha frente... entrei.
o silencio daquele castelo, frio e negro como eu...
olho à volto e cheiro o ar... o cheiro eu já conheço, sei onde procurar...
caminho dengosamente pelo meio dos rostos assustados,
ninguem compreende,
apenas vêem o lobo sem reconhecerem quem caminha...
estou aqui, sempre estive...
nas sombras ou no esquecimento, estive sempre presente...
grito do fundo dos meus pulmoes de animal...
não vale a pena mostrar a minha sensibilidade humana,
o animal é o desejado...
até que... do alto da torre vejo uma sombra sob a luz da lua... chegaste!
um monstro como eu...
uns nascem para governar outros para servir...
existem sensações que nos controlam,
que nos cegam, que nos domam,
mas até o mais louco dos loucos se passa...
aterraste... e ao cravar as minhas garras em teu corpo,
e tu teus dentes no meu pescoço... olhamos...
quem somos?
porque o fazemos?
teus dentes se retraíram, minhas garras se encolheram...
teus olhos a duvida e medo, meus olhos a tristeza e raiva... Porquê?
porquê não? o quê? sim apenas...
subo ao monte e sento-me olhando a torre... novamente irei atacar, desistir já deixei de fazer...